#23 Sobre sentir raiva
O que já rolou por aqui…
Edição #21 - Sobre decisões difíceis
Edição #22 - Sobre procrastinação
Responder com raiva a situações abusivas não é um desequilíbrio mental! Vamos escolher, de uma vez por todas, acolher esse sentimento que tanto rejeitamos?
Sabe aquela situação em que você se sentiu muito injustiçada ou desrespeitada, bateu aquela raiva e você colocou tudo pra fora? #quemnunca
E por um acaso, depois disso acontecer, já ouviu do outro palavras do tipo: exagerada, histérica ou maluca?
Ou sentiu aquela sensação de culpa, regada de questionamentos do tipo:
“Será que tem algo de errado comigo por eu ter reagido assim?”
“Será que tenho algum transtorno mental?”
“Será que devo precisar de tratamento psicológico ou de medicamentos?”
Existe um estigma social muito grande em relação a determinados sentimentos humanos, sobretudo quando são experienciados por determinados grupos sociais.
Vamos falar da raiva.
Esse é um sentimento que todas nós, em nossa humanidade, iremos vivenciar na vida, certo? O que acontece é que por muitas vezes, ela tem sido capturada pela lógica que trata determinadas emoções como patológicas e erradas.
Hmmm, mas o que isso quer dizer?
Bom, isso implica que nem todo mundo tem o direito de se expressar e ser acolhido da mesma forma em nossa sociedade.
Quais discursos são usados quando mulheres, por exemplo, comunicam suas insatisfações desde novas? Não é o da desconfiança, da loucura, da histeria e da falta de inteligência?
E os homens, por sua vez?
Não são validados quando expressam a sua raiva? Entendidos como assertivos, bons líderes, com personalidade forte?
São até mesmo admirados por isso… (A Manu Gavassi falou sobre nesse podcast!)
Nós mulheres somos quase sempre ceifadas de exprimir nossa raiva e senti-la, afinal, a “forma correta” do nosso gênero reagir frente a qualquer circunstância abusiva é com diálogo, gentileza e respeito.
Sair disso seria indicativo de um “problema de autocontrole”, o que poderia configurar um “desequilíbrio mental” que deve ser diagnosticado, tratado e até medicamentalizado.
Mas por que será que se consolida com tanta força em nossa cultura a norma da raiva como sinônimo de algo negativo, principalmente quando manifestada por grupos minoritários?
Por exemplo, pessoas negras ao exprimirem descontentamento com opressões são lidas como raivosas.
Crianças que ousam questionar figuras de autoridade e desobedecê-las são usualmente rotuladas com algum transtorno.
E as mulheres... Como vocês já sabem, ao menor sinal de posturas de enfrentamento são desqualificadas, tendo a própria sanidade e percepção colocadas à prova.
Existe um conceito em saúde mental que chamamos de patologização da vida.
Esse termo um tanto quanto difícil significa que questões que são naturais do ser humano ou que são políticas, econômicas, culturais são tratadas como se fossem problemas patológicos, ou seja, transtornos mentais.
Nesse sentido, patologizar a raiva nos faz crer que tanto sentir, como responder com raiva a situações abusivas é digno de vergonha, pois indica um desequilíbrio mental. Algo a ser tratado e corrigido.
Além do preconceito evidente com as questões de saúde mental que esse tipo de pensamento aponta, quando patologizamos a vida mantemos determinadas estruturas sociais opressoras intactas, enquanto vamos responsabilizando individualmente pessoas por essas questões que são, antes de mais nada, políticas.
Como assim?
Veja só: é muito mais fácil dizer que uma mulher está louca quando ela esbraveja com um chefe ou colega de trabalho que a assedia, do que dizer que existe uma cultura sexista, machista e misógina que faz com que mulheres sejam alvo de violência até nos seus ambientes de trabalho.
É bem mais cômodo falar que uma mulher está sendo exagerada, quando não aceita ser desrespeitada por um homem em um relacionamento amoroso do que dizer que homens são socializados para objetificar mulheres e tratá-las como posse.
A patologização da vida e as opressões sociais caminham de mãos dadas.
E é muito importante perceber que o processo de patologização se volta de maneira distinta para os grupos sociais.
Enquanto ela dá aval para que, por exemplo, homens e pessoas brancas tenham sua raiva legitimada, grupos minoritários – mulheres, pessoas negras, crianças... – são silenciadas em seu sofrimento.
Com esse movimento, mulheres são ensinadas a se colocarem em lugares de subserviência e passividade: aquela mulher que tem que enfrentar com disposição os problemas, não pode se sentir mal mesmo em contextos difíceis, não pode se sentir sobrecarregada com a dupla jornada de trabalho que lhe é imposta, deve resolver as adversidades da melhor forma possível e, sobretudo, que não pode reclamar desse contexto.
Difícil, né? #exaustah
E vamos lá: a quem interessa uma ideia tão irreal e desumanizada de mulheres?
Bem… Mulheres silenciadas não lutam, não se posicionam, se entristecem e paralisam. Não fazem revoluções e não rompem estruturas que lhes são nocivas.
Entender que a raiva pode ser um sentimento potente e que é ela quem nos alerta e mobiliza em contextos de opressões, desrespeitos e violências pode ser um exercício importante para nos movermos desse cenário que não permite demonstrarmos nossas insatisfações.
Sem a raiva ficamos apenas à mercê daquilo que vivemos, como meras espectadoras de nossas próprias vidas.
Não há reinvindicação, não há transformações e não há melhorias.
Então, que possamos nos apropriar também desse sentimento – tão rejeitado por nossa sociedade -, e usá-lo a nosso favor. Se revoltar às vezes é preciso.
A raiva é precisa.
A Ana Clara fala sobre literatura, cinema e afins no Instagram @cacaleitura e como o final de ano tá vindo aí, convidamos ela pra sugerir 10 livros que podem entrar na sua lista de presentes de amigo oculto ou pra aquela amiga que ama ler!
Vamos lá:
1- Tudo é rio (Carla Madeira): Com uma narrativa madura, precisa e ao mesmo tempo delicada e poética, o romance narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma perda trágica, e de Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um triângulo amoroso.
2- A Biblioteca da Meia-Noite (Matt Haig): Nora Seed se vê exatamente na situação pela qual todos gostaríamos de poder passar: voltar no tempo e desfazer algo de que nos arrependemos. Diante dessa possibilidade, Nora faz um mergulho interior viajando pelos livros da Biblioteca da Meia-Noite até entender o que é verdadeiramente importante na vida e o que faz, de fato, com que ela valha a pena ser vivida.
3- Os sete maridos de Evelyn Hugo (Taylor Jenkins Reid): Lendária estrela de Hollywood, Evelyn Hugo sempre esteve sob os holofotes. Agora, prestes a completar oitenta anos e reclusa em seu apartamento, a famigerada atriz decide contar a própria história, mas com uma condição: que Monique Grant, jornalista iniciante e até então desconhecida, seja a entrevistadora.
4- A vida invisível de Addie LaRue (V.E. Schwab): Addie foi amaldiçoada para não ser lembrada por ninguém. No entanto, trezentos anos depois, em uma livraria, um acontecimento inesperado: Addie LaRue esbarra com um rapaz. Ele enuncia cinco palavras. Cinco palavras capazes de colocar a vida que conhecia abaixo: Eu me lembro de você.
5- É Assim que Acaba (Colleen Hoover): Lily, uma jovem que se mudou de uma cidadezinha do Maine para Boston, se formou em marketing e abriu a própria floricultura. E é em um dos terraços de Boston que ela conhece Ryle, um neurocirurgião confiante, teimoso e talvez até um pouco arrogante, com uma grande aversão a relacionamentos, mas que se sente muito atraído por ela. Quando os dois se apaixonam, Lily se vê no meio de um relacionamento turbulento que não é o que ela esperava. Mas será que ela conseguirá enxergar isso, por mais doloroso que seja?
6- Até eu te encontrar (Graciela Mayrink): Na Universidade de Viçosa, em Minas Gerais, calouros e veteranos começam a se conhecer e as amizades vão se formando em um mundo de estranhamentos que é a vida universitária. Até que os romances começam a acontecer. No redemoinho dessas paixões, até onde podemos controlar nossas vidas? E será que a perversidade de alguns é mais forte que a força do destino?
7- Flores para Algernon (Daniel Keyes): Uma cirurgia revolucionária promete aumentar o QI do paciente. Charlie Gordon, um homem com deficiência intelectual severa, é selecionado para ser o primeiro humano a passar pelo procedimento. Entretanto, Charlie passa a ter novas percepções da realidade e começa a refletir sobre suas relações sociais e até o papel de sua existência.
8- Os cem anos de Lenni e Margot (Marianne Cronin): Uma amizade extraordinária. Cem anos de histórias prestes a serem contadas... antes que seja tarde demais. Lenni é uma adolescente de dezessete anos, dona de uma personalidade especial e de muito carisma. Pode-se dizer que é uma garota cheia de vida... exceto que, segundo os médicos, ela está à beira da morte. E é então que conhece Margot, uma senhora de oitenta e três anos, doce e de coração rebelde como o de Lenni. A conexão entre elas é intensa e imediata, e as duas percebem uma peculiaridade: juntas, têm um século de vida!
9- Procura-se um marido (Carina Rissi): Conhecemos Alicia, uma jovem que sabe curtir a vida e é louca pelo avô, um bem sucedido e rico empresário, que é a sua única família. Mas seus planos de continuar a viver uma vida sem preocupações acabam de maneira repentina. Seu querido avô morre e Alicia tem que lidar não só com a tristeza da perda, mas também com os termos do testamento deixado por ele.
10- A revolução dos bichos (George Orwell): Num belo dia, os animais da fazenda do sr. Jones se dão conta da vida indigna a que são submetidos: eles se matam de trabalhar para os homens, lhes dão todas as suas energias em troca de uma ração miserável, para ao final serem abatidos sem piedade. Liderados por um grupo de porcos, os bichos então expulsam o fazendeiro de sua propriedade e pretendem fazer dela um Estado em que todos serão iguais.
Ah, só mais uma coisinha….
Enquanto isso, no grupo de família do ZAP, a gente vai tentando organizar a ceia de final de ano como pode, até receber essa mensagem de uma tia kkkkk
É isso então... NÃO PRECISA APAVORAR!
Como diria Márcia Sensitiva, RELAAAAAXA!
Sofia 💅🏻
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