#12 Sobre o medo de ser sozinha pra sempre
O que já rolou por aqui…
Edição #11 - Sobre alma gêmea e atração
Edição 10 - Sobre ambição
“É impossível ser feliz sozinho” / “A felicidade só é real quando é compartilhada”… Desde sempre fomos ensinadas a buscar a alegria no outro.
Mas será que a gente quer mesmo dar esse poder e deixar essa responsabilidade nas mãos de outra pessoa? Vamos abrir mão de ter o controle da nossa própria felicidade?
Pois é… Se você mesmo não sabe e não busca se fazer feliz, não espere que ninguém saiba.
Em tempos de amor livre, quase ninguém acredita mais na ideia de ficar para sempre com o mesmo par. E isso é ótimo! Casar e ter filhos sempre foi um objetivo custoso e desafiador, principalmente para as mulheres, que pagavam o pato nessa escolha.
Mudamos nosso modo de enxergar a vida.
Na psicologia, dizemos que há uma grande diferença em uma vida orientada por objetivos e por valores.
Quando eu me agarro a um objetivo, ideias fixas como “casar” ou “achar a alma gêmea” nascem.
A questão é que essa é uma jornada fadada à frustração: se eu me junto a um namorido, ainda não será suficiente, porque não realizei aquele sonho do véu e grinalda.
Da mesma forma, se amo minha esposa, mas ela não é compatível comigo em absolutamente tudo ou não balança meu coração todos os dias, a sensação é de desamparo e derrota.
Os amores modernos e saudáveis são muito mais guiados pelos valores: aquela voz interna, que parece sempre sussurrar no nosso ouvido o que é o certo e nos direciona para uma vida cheia de sentido.
Na teoria, se guiar apenas por valores é incrível: você vai buscar uma conexão total consigo e focar nas suas experiências, o que é um grande sinal de saúde mental.
Só que é preciso lembrar que:
vivemos em uma cultura;
somos cercadas por pessoas;
nem todas as influências são positivas.
Será que “ser livre” significa o mesmo para todo mundo?
Como eu posso ser essa tal mulher independente a la Sex and the City? Como eu me conecto e me deixo levar pela jornada?
Sem querer, vamos criando uma nova pressão em cima de nós 🤡
Percebo que toda essa bagunça de mudança de gerações afeta principalmente as mulheres, com destaque para as solteiras.
Como psicóloga que trabalha com relacionamentos, raramente recebo, hoje em dia, demandas e questionamentos como: “será que um dia vou ser feliz para sempre? Vou achar o amor da minha vida?”.
Nós já sabemos que esse tipo de crença nos prende a ciladas. As mulheres não estão mais tão preocupadas com isso.
Só que a sociedade vai inventando novas armadilhas para vivermos “autenticamente" e, assim, surgem novas angústias:
“Será que estou realmente vivendo a vida?”
“Eu nunca namorei… Queria um namoro só para terminar e poder me sentir no mesmo nível de todas as minhas amigas”.
Essa segunda frase é muito comum.
A relação ganhou um papel muito mais de aceitação social e do grupo do que uma busca de amor romântico.
Por um lado, é muito libertador e não sugiro um retrocesso. Por outro, estão criando novas amarras enfeitadas para nós. Eu me identifico bastante com isso.
Cresci nos anos 2000, onde tivemos novas referências nas comédias românticas.
Não crescemos vendo mulheres passivas que aguardavam o amor ou sofriam por um homem. Torcemos por personagens poderosas que eram inteligentes, livres sexualmente e não precisavam de rapazes em sua vida.
Ao mesmo tempo, estavam todas no padrão de beleza e comportamento da época.
Rivalizavam com as mulheres vistas como conservadoras, entediantes e descuidadas. Um exemplo clássico é “Um Amor para Recordar”.
A protagonista é zombada por ser religiosa e sem graça. Ela conquista o mocinho da trama ao mostrar um lado sexy, se arrumando para uma peça de teatro. Apesar disso, se mantém católica.
Está tudo bem acreditar no que quiser, desde que você seja atraente.
O medo da mulher moderna não é mais de não ser amada, mas de não pertencer.
Não queremos ser esquisitas, castas, certinhas. Desejamos ser desejadas, buscando a aprovação masculina - se antes isso vinha do casamento, agora vem da pressão de performance. E isso também pode ser muito dolorido.
Você, solteira, pensa que não é tão bonita quanto as amigas. Acredita que há algo de errado com a sua personalidade. Tem certeza que não tem charme algum. Não tem o que contar nas rodinhas quando todas dividem as aventuras (ou tem que fingir viver um agito, quando passou o sábado deitada com seu gato vendo Netflix).
Escuta as amigas reclamarem dos namorados e namoradas, dá conselhos valiosos, mas no fundo se sente mal em estar nesse papel - queria também ter do que reclamar.
Você quer ser livre também.
Mesmo que isso signifique ir em encontros sem graça, mas que te rendem boas histórias. É melhor ter vários beijos ruins, ao invés de dizer que você não fica com ninguém.
O sexo é desconectado, só que ei! Você está fazendo sexo…
O problema é que nem sempre decidimos quais desejos são verdadeiramente nossos. E quem fica de fora é estigmatizado.
Nunca beijou aos vinte e poucos? Deve ter algum problema. Namora há anos a mesma pessoa? Provavelmente não sabe nada da vida, coitada. Imagina não viver a vida?
Tudo isso tem um peso muito grande na nossa cabeça e o medo de ficar sozinha para sempre é muito justificável. Você já foi exposta a muita coisa. Só que apenas ser justificável não quer dizer que ele seja verdadeiro 🤯
Você provavelmente entrou em um ciclo de autocrítica e essa angústia foi ficando cada vez mais.
O mundo ao seu redor não ajudou e acabou te levando para o que chamamos de profecia auto realizadora: quando temos tanto medo de algo que acabamos, sem querer, tornando-o mais real. (Também falamos sobre isso na edição #9 da Sofia: Sobre escassez e abundância).
Na prática:
Talvez você tenha enrolado para beijar sem um motivo muito específico - tinha um pouco de vergonha ou um outro foco.
Logo em seguida, o tempo foi passando e você desesperou.
Passou a ter vários pensamentos como “eu sou esquisita, só eu não beijei!” que te fizeram ter mais angústia ainda ao tentar se aproximar amorosamente de alguém.
Essa angústia foi crescendo e, sinceramente, você nem tenta mais 😔
Qualquer pequena rejeição ou desapontamento imaginado (“fui na festa e ninguém chegou em mim, isso só pode significar que eu não sou interessante”) já é suficiente para te fazer se esconder por uns bons meses.
Você evita o assunto quando alguém tenta te dar algum conselho: “eu só sou azarada mesmo, isso não é para mim. Nunca vou ser amada”.
Mas o tempo passa, você vê sua idade aumentando e a ideia inicial de “ser esquisita” fica mais forte ainda na sua mente.
Você sente vergonha, raiva, ansiedade, uma mistura de coisas.
Homens e mulheres interessados soam como chatos, clichês e tediosos. Afinal, quem se interessa por você deve ter algum tipo de problema.
Sim, talvez você esteja um pouquinho atrasada nessa fase, em comparação com as pessoas da sua idade.
Possivelmente, também, pouca gente se interessou por você até agora. E a minha ideia ao falar isso não é te deixar ansiosa: justamente o contrário. Já foi!
Se a gente não se mostra ou aparece, é difícil alguém se interessar por nós.
E se enxergarmos como algo muito grande e complicado sermos mais velhos que a média em uma fase, estamos induzindo as pessoas ao nosso redor a pensarem o mesmo, ao invés de normalizar nossa experiência.
A aceitação é o primeiro passo para a mudança.
Não temos como nos desligarmos da sociedade por completo e uma boa parcela da sua ansiedade foi colocada em você pelo mundo ao seu redor.
Mas como você quer viver todo o resto da sua vida que ainda te espera? Lembra todo aquele papo sobre valores no início do texto?
Você pode se guiar!
O que te faz sentir bem? Quais histórias te emocionam? Que amizades te fazem bem e te fazem desejar estar perto? Quem te faz bem, nos outros tipos de relação? O que pensamos que queremos e o que de fato desejamos é bem diferente.
A que e a quem serve viver essas primeiras experiências ou estar com alguém a qualquer custo? É vivendo e observando a nós e a nossa própria vida que vamos descobrindo os nossos valores reais.
Esses sim desvinculados, dentro do possível, da TV, da internet e dos estereótipos - seja da mulher livre dos anos 2000, da Amélia dos anos 60 ou da atual influencer feliz e organizada com jornada tripla em 2022.
A mulher independente é aquela que está com a cabeça calma. Liberdade no patriarcado é ter paz e saúde mental em dia. E isso tem uma cara diferente para cada uma.
Mas como tudo isso vai me ajudar a ter uma primeira experiência ou achar um amor?
Se criticar e temer o futuro não tem te ajudado, parar, respirar e recalcular a rota é uma opção que vale tentar. Outro ponto importante é ampliar suas experiências.
Se eu só tenho histórias de derrota, como vou pensar bem de mim?
Tentar sempre voltar com um ex que te tratou mal, por exemplo, é se condenar a sempre se achar pouco e insuficiente.
Conhecer um novo amor tem toda a dúvida da incerteza, mas posso garantir que pelo menos será diferente em algum aspecto. E vai te movimentar para longe da zona de conforto.
Você vai ter que se expor e lidar com toda essa ansiedade e tristeza, se quiser viver a felicidade e a paz de espírito.
As emoções andam de mãos dadas e não dá para fugir de umas sem perder todas.
Na prática, isso significa estar disponível: seja em festas, barzinhos, grupos de amigos ou em aplicativos de relacionamento.
Aprender a lidar com o medo da rejeição é igualzinho a tomar coragem para pular de bungee jumping, andar de avião ou nadar: você vai ter que lidar com o incerto e ir mesmo assim.
Depois de um tempo, se torna menos ameaçador e até divertido. Eu te garanto que existirão “sims” ou ao menos aprendizados de como lidar com os “nãos”.
Você vai ter que abraçar a vulnerabilidade pelo resto da jornada, se quer amar, seja lá quem for.
Pra ver: Vivemos em um BBB. Olha só esse projeto que usa câmeras de rua e inteligência artificial para descobrir como uma foto postada no Instagram foi tirada. Black Mirror veio aí pra valer.
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Convidamos *as sócias* do Fundão Cult pra um feat e elas vão assinar a próxima edição com a gente! E sejam muito bem-vindas, galerinha do @fundaocult! Vocês já chegaram em peso por aqui. ELITE!
Sofia 💅🏻
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